sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A EDUCAÇÃO DAS MULHERES NA REPÚBLICA DE PLATÃO

Platão afirma que a educação inicial será dada igualmente aos dois gêneros sexuais, e que eles passarão pela seleção, de sorte que poderá haver mulher na Classe Militar. “Um Estado que não usa as aptidões das mulheres é um Estado incompleto”. Aos guardiões é dada a educação tradicional dos guerreiros gregos: ginástica, música, dança e artes marciais.
Os guardiões devem considerar que sua casa é a Cidade, por isso não terão casa própria, nenhuma propriedade privada, nem família: homem e mulher viverão em comunidade, seus bens são comuns, o sexo é livre (não há matrimônios) e as crianças deverão ser consideradas filhas da comunidade inteira. Platão elimina a causa que dá origem à “aristocracia” de sangue e hereditária, impedindo que os guardiões constituem linhagens e que estas se rivalizem.
A educação dos guardiões é propriamente cívica, pois eles só existem como pessoas públicas para o bem público. Os guerreiros devem ser semelhantes a um cão de guarda: carinhoso para os seus e terríveis para os inimigos.
Platão aprofunda dois grupos de questões, o primeiro consiste numa série de conseqüências que derivam do fato de ter posto o princípio de que a classe dos guardiões do Estado deve ter todas as coisas em comum: habitação, alimentação, mulheres, filhos, a criação e a educação da prole.
A primeira conseqüência derivada por Platão é a de entrega às mulheres dos guardiões a mesma casa entregue aos homens e, portanto, a de educar as mulheres da mesma forma que os homens.
Assim sendo, as mulheres, como os homens, se exercitarão despidas nos ginásios, revestidas de virtude e não de roupas e, sem dever ocupar‑se de outra coisa, tomarão parte na guarda do Estado e também na guerra.
Essa idéia é revolucionária, pois, em geral, o grego recolhia a mulher no recinto doméstico, confiava‑lhe a administração da casa e a criação dos filhos e a mantinha longe das atividades culturais, de ginástica, das atividades bélicas e políticas.
Uma segunda conseqüência, que deriva imediatamente da anterior, é a eliminação do instituto da família para a classe dos guardiões, já que as mulheres (assim como os homens) não deverão ocupar‑se de outra coisa a não ser da guarda do Estado. As mulheres dos guardiões serão comuns e também os filhos serão comuns.
Assim, Platão quer tirar dos guardiões uma família sua particular para oferecer‑lhes uma muito maior. Com efeito, não somente a posse de bens materiais divide os homens, mas também a posse daquele bem peculiar que é a família desperta de várias maneiras o egoísmo humano. Tendo posto em comum também à família, os guardiões de nada mais poderão dizer “é meu”, porque tudo absolutamente será comum, à exceção do corpo.
O Estado platônico representa, físico e espiritualmente, a elite da população, e é necessário que justamente dela nasça a nova elite. Assim o motivo da proibição de toda posse individual, mesmo da posse de uma mulher, combina‑se com o princípio da seleção racial no conduzir à teoria da comunidade de mulheres e filhos para os guerreiros.
Conclui que permanece verdade, por mais nobre que tenha sido o fim almejado por Platão (unificar a Cidade como uma grande família, cortando pela raiz tudo o que fomenta os egoísmos humanos), os meios que indicou não somente se mostram inadequados, mas decepcionantes. Considerando bem, em todas essas doutrinas o erro fundamental permanece o mesmo, e consiste em considerar a raça mais importante do que o indivíduo, a coletividade mais do que o sujeito singular. Platão, como todos os gregos antes dele (e também depois dele, até o aparecimento das correntes helenísticas), não teve claro o conceito de homem como indivíduo e como singular único e não‑repetível, e não logrou entender que nesse ser uma individualidade singular e não repetível está o supremo valor do homem.

Nenhum comentário: